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Atualizado: 1 de mar. de 2021


Os materiais têxteis são essenciais no cotidiano humano, fazem parte do início da cadeia produtiva da moda e são a matéria prima da maioria das roupas que temos no mundo. Já pensou como viveríamos sem eles? Este vídeo brinca com esta questão e dá uma noção da dureza que seria o nosso dia a dia sem os tecidos que nos cobrem, cuidam e acolhem:

Contudo, as engrenagens de produção da indústria têxtil são bem problemáticas. Se antes a manufatura artesanal causava poucos impactos negativos por conta da pequena quantidade e velocidade, hoje o sistema industrial tem práticas cada vez mais desumanas, dotadas de métodos poluentes e meios de produção exploratórios. Isto faz com que refletir sobre os têxteis seja crucial para que possamos dar lugar a processos e materiais que viabilizem um sistema mais equilibrado e menos degradante.


Mas afinal, o que é um tecido?

O tecido é um material formado por fios entrelaçados, manual ou mecanicamente, que dão origem a uma superfície têxtil, usada para produção de diversos artigos. Esta é uma definição variável, pois existem superfícies têxteis que não são tecidas, ou seja, não tem os fios entrelaçados, como os tecidos-não-tecidos (TNT e feltro), e outras diferentes composições com materiais que podem também formar uma superfície.

Todo fio, que forma o tecido é composto por alguma fibra, que pode ser ou natural ou química. As naturais são aquelas provenientes da natureza, dividindo-se em vegetais (algodão, linho, rami, juta, entre outros), animais (lã, seda, entre outras) e minerais (amianto). Estas são as mais comuns, mas existem variadas fibras naturais, como a do leite e a do abacaxi.

Já as fibras químicas desdobram-se em duas classes principais: artificiais e sintéticas. As artificiais tem uma parte química e uma parte natural na sua produção; um exemplo é a viscose, que tem como matéria prima natural a celulose, mas passa por processos químicos para tornar-se a fibra definitiva. Outros exemplos de fibras químicas artificiais são o acetato, raiom e triacetato. As sintéticas são 100% químicas e provém de algum polímero, sendo geralmente o petróleo. Poliamida e poliéster são exemplos deste tipo de fibra.


Quais são as fibras mais produzidas no mundo?

Em 2017, mais de 105 milhões de metros de tecidos foram produzidos, conforme dados do relatório da Textile Exchange, que ainda mostrou quais são as fibras mais utilizadas no mundo: poliéster e algodão. Conheça um pouco processo produtivo:

O poliéster representa 60% do montante das fibras produzidas no mundo globalmente - um número que dobrou desde o ano 2000. Por definição química, é um polímero formado por vários ésteres; a principal reação que o produz é entre o álcool etilenodion e o ácido tereftálico. Essa reação origina o polímero politereftalato de etileno, comumente conhecido como PET e utilizado para fabricação de vários itens de plástico: garrafas, embalagens e têxteis.

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Para a fabricação da fibra, utilizada nos artigos de vestuário, o poliéster entra em fusão com temperaturas de 253ºC a 259°C, até que se liquefaz. Este líquido é puxado por meio de uma extrusora, semelhante a um “chuveiro”, que determina o tamanho dos filamentos e os mantém alinhados continuamente. Depois, acontece um processo de torção que transforma esse filamento em fio. Sua produção utiliza recursos não renováveis: substâncias químicas extraídas do petróleo (bruto ou gás), além de consumir muita água em seus processos, e demora em média 400 anos para se decompor em condições naturais.

O algodão é uma das fibras mais antigas e utilizadas do mundo, que garante ao Brasil a posição de ser seu segundo maior exportador mundial e tem sua maior produção no centro-oeste.

[...]

É uma planta composta quase 100% de celulose e bastante resistente a seca - por isso seu cultivo em diversas regiões do mundo, principalmente em semiáridos. Quase tudo nele é aproveitado: caule, folhas e bagaço para a alimentação animal; caroço para produção de óleo; e pluma para a produção de fibras utilizadas em diversos segmentos têxteis. Atualmente, a maior parte é aplicada nestes artigos, incluindo o vestuário. Suas etapas de produção são: plantio, onde as sementes de algodão são plantadas enfileiradas em grandes lavouras, normalmente rotativas com a produção de soja ou milho, e florescem em mais ou menos 6 semanas; essa flor cai ou seca, dando origem ao chamado de “maça”, que é um bagaço onde acontece a maturação da pluma do algodão; depois de mais ou menos 70 dias, essa pluma está pronta para a colheita; nesta etapa muitos pesticidas e agrotóxicos são utilizados para manter o crescimento da planta; colheita, onde o algodão é colhido por meio de algum maquinário específico ou por pessoas; descaroçamento, pois na fase anterior outros tipos de folhas e plantas são recolhidas, então o algodão passa por uma fase de ‘limpeza’, onde esses rejeitos são separados da pluma do algodão em si; e distribuição, onde o algodão é transformado em fardo e transportado para as indústrias têxteis para ser fiado e depois tecido.


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Atualizado: 1 de mar. de 2021

Conheça o projeto LAB Arremate e 3 costureiras de mão e coração cheio da periferia de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro



Antes de tudo, antes das palavras abaixo chegarem até você, faça um breve exercício: olhe para a peça de roupa que te veste, muito provavelmente. Agora olhe para suas mãos. Tente imaginar quantas, semelhantes as suas ou as minhas que escrevem esse texto, passaram por esta mesma roupa que te veste. Lembre-se da extensão da cadeia produtiva da moda: passa pelo campo e instalações petrolíferas, flui até as águas, se traduz nos desenhos, se remenda nas costuras e chega até elas.


São milhares. E faz tempo: o contato humano com o ato de se vestir e se cobrir começou no período paleolítico, passando pelo surgimento da agulha com marfim de mamute, ossos de rena e presas de leão marinho; depois, a modelagem foi tomando forma transformando materiais bidimensionais em tridimensionais; o tear manual é criado e se tece com insumos da agricultura de lã e algodão - que já era cultivado na Ásia antes mesmo da Europa iniciar suas cruzadas colonialistas.


Mais um pouco e caímos na Revolução Industrial européia: surge a costura - que até então era integralmente manual - com máquinas e equipamentos. Implementa-se a produção em larga escala e chegamos até os dias de hoje, com um sistema de moda que costura 150 bilhões de peças ao ano. Com isso, o papel social do trabalho feminino na moda se moldou a partir da costura, sendo indissociável do lugar doméstico dado à mulher e no desenvolvimento do capitalismo.


A moda que conhecemos hoje é diferente da moda de séculos atrás, mas lá ou aqui, as manualidades se fizeram presentes e indispensáveis para sua consolidação, e embora roupa não seja necessariamente moda, a moda não existe sem a roupa. E nesse vai-e-vem, a costura materializa a moda. E a moda materializa nossos espíritos, do tempo e da humanidade.


Hoje, essa costura tem sido sustento e abrigo para muita gente. O Brasil concentra 1,5 milhões de trabalhadores na indústria do têxtil e vestuário; se somarmos os trabalhadores informais, o número pode chegar a 8 milhões - de mulheres, porque elas representam 75% do total. E a maioria, costurando: o ofício da confecção é o predominante.



A ancestralidade contida na costura

Nestes remendos, a costura manifesta sua ancestralidade por meio da memória, porque costurar é colocar memória. É fazer com as mãos, e quem faz com as mãos coloca sempre um pouco de si. Então costurar é um legado.


O momento de agora, com uma pandemia global sem precedentes colocando a prova diversos modos de pensar e fazer, nos mostra a importância dessa ancestralidade. Precisamos olhar para o mundo por outro espectro. Estávamos com uma lente torta e torpe, e talvez - com uma essencial dose de trabalho de base para que esse talvez seja um sim - essa lente possa ser subvertida para uma que olhe para as mãos, invés de olhar para cifrões.


Talvez, se assim fosse, não teríamos agora milhares de trabalhadores em Bangladesh sofrendo sem trabalho e sem indenização por conta de contratos cancelados por enormes varejistas, porque estaríamos valorizando vidas e não apenas números. Talvez, no Brasil, não precisássemos ter campanhas de doação para compra de cestas básicas para famílias de imigrantes costureiros que não tem novos pedidos, porque a distribuição de riquezas se daria de forma justa na cadeia produtiva do vestuário.


Então, agora, reconectar-se com nossos legados é uma oportunidade urgente - como sempre foi - na missão de humanizar a moda. E também resistência, como sempre foi também. Há séculos tentam atar as mãos de quem cria memórias resistentes aos apagamentos, tentam silenciar vozes e empilhar corpos negros, indígenas, de mulheres e de pobres. Então manter viva a memória das mãos é uma forma de dizer “não irão me desmanchar.”



Personificação da costura ancestral: conheça o Lab Arremate e 3 costureiras da periferia de Duque de Caxias

As mãos ancestrais que poderiam ser agraciadas, celebradas e potencializadas por uma moda criativa e emancipatória, são muitas vezes designadas a produção em massa sem propósito, com prazo de validade e acumulação tão sem propósito quanto. O retrato do trabalho informal no Brasil - e mundo - pode ser com nuances penosas. Em muitas vezes, ele é um quadro pintado à mão pelo neoliberalismo, prometendo um horizonte promissor mas entregando mazelas e obras mal acabadas.


Porém, existem outros pontos sendo tecidos com mãos que costuram sonhos e entrelaçam alegrias cotidianas. Existem vidas que se realizam e se somam por meio do trabalho com a moda e com a costura, já que uma não existe sem a outra.


O retrato da ancestralidade de hoje se pinta na história da Luiza Alves Batista Oliveira, 61, Geovania Barbosa da Silva, 47, e Lidiane Lidiane Alves de Oliveira, 28. As primeiras, duas costureiras de mão e coração cheio: Luiza há mais de 40 anos, e Geovania há mais de 10, que trabalham como autônomas; a terceira, filha-artista de dona Luiza - que diz que para ser costureira tem que comer ainda muita rapadura - e progenitora do Laboratório Arremate, “um espaço autônomo de criação periférica”, em Duque de Caxias.


Da esquerda para a direita: Lidi, Luiza e Geovania.



Num dia aleatório de janeiro no Rio, aterrissei direto no ateliê, que também é casa, da dona Luiza, onde juntamente trabalha a dona Geovania, há dez anos. Fazia sol e um gato colorido me recebeu na porta.


De início, Lidi, que é cientista social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), contou que decidiu aprender a costurar quando sua mãe Luiza foi diagnosticada com um problema de visão há mais ou menos 2 anos. Dona Luiza aguardou esse tempo na fila do Sistema Único de Saúde (SUS) para realizar o transplante, passou por 3 cirurgias e teve que ficar meses de molho, trabalhando pouco ou nada. Ela conta que os sonhos, a noite, eram “costurando , claro!”.


Lidi confidenciou que antigamente não se dava bem com a costura. Era intimidada por ela, por conta das visualizações maldosas da desumanização que acometiam sua mãe ao longo do oficio. “Eu cresci vendo elas sendo totalmente desumanizadas, eu ficava muito com uma aversão do que é a moda”, conta. Mas, aos poucos, no compasso que aprendeu a costurar, aprendeu também o lugar de ancestralidade que a costura ocupa: “depois consegui entender e trazer isso nas minhas criações colocando essa roupa enquanto uma história, enquanto tradição; tem pessoas que usam algumas roupas que eu crio, que compram porque lembram da mãe; tem um lugar da afetividade naquilo, tem o lugar de uma história.”


Aí entra um ponto crucial: a valorização da roupa enquanto memória, não só pela sua história e trajetória material no mundo, mas pela história e trajetória de quem a fez, a memória colocada ali pela mão que a costurou. Isso a Lidi também relembrou quando disse que “a moda é um conhecimento totalmente ancestral”, junto de sua interpretação da “moda com ativismo, conexão e espaços de acolhimento."


Mas temos valorizado essa ancestralidade? E mais, temos reconhecido seu poder de mudança num mundo tão flagelado? Para Geovania, a resposta está na urgência em fazermos as coisas com amor. E entender que a costura precisa ser autenticada enquanto uma autonomia. “A pessoa que está lá fora [...] precisa entender que a costura, a costureira, também tem sensibilidade, é um ser humano, e precisa ser reconhecida. Nós que costuramos precisamos ser reconhecidas, não como uma coitada - porque muitas pessoas acham que nós somos coitadas - e no entanto não somos, eu pelo menos não me sinto coitada, eu me sinto bem.”


A costureira conta como a costura tem sido sua salvação: “eu realmente gosto do que eu faço, eu me realizo, posso estar cheia de problemas, de confusão na mente, mas quando eu sento nessa máquina, poder costurar e fazer o que eu amo, o tempo passa que eu nem percebo.”



Pausa para o café

Recebemos a Maria Luiza, neta de dona Luiza. Pausa para tomar um café com leite. São momentos como esse que fazem também da costura uma ancestralidade: um afago na família, uma faísca da infância, uma visita inesperada. Costurar é um ritual. Viver é um ritual. Por isso a semelhança constante.


Geovania costurando


Os saberes contidos nesta ancestralidade também são valorizados de forma desigual. Lidi reforça que “essas mulheres estão na periferia fazendo produção do saber há anos, e aí quando alguém dentro de uma Universidade produz aquele saber, é enxergado de outra forma”. Dona Luiza relembra algo importante: “uma coisa simples que a gente sabe, eles não sabem”. Ou seja, existem saberes diferentes, e todos merecem ser celebrados igualmente, e não expropriados.


Quando perguntei o que a costura as ensinou sobre a vida, para ambas costureiras, a resposta foi unânime: ter paciência. “Aprendi a ter paciência, entender o próximo, que ninguém é igual a ninguém, cada um tem seu tipo e seu jeito”, conta dona Luiza, endossada logo em seguida por dona Geovania. Depois, para descontrair, perguntei o que cada uma mais gostava e menos gostava de costurar. Dona Luiza respondeu “macacão, é difícil acertar o movimento”, e dona Geovania respondeu que não gostava de costurar “roupa de criança”, e ao fundo dona Luiza brincou: “é pecado!”.


A conversa revela, de forma despretensiosa, como uma roupa pode carregar tantos significados, gostos, manias e memórias de quem as confecciona, e como a costura pode ensinar sobre a liturgia da vida.



A crise nos revela, mais intensamente,

que resgatar é preciso

É possível construir uma costura ancestral, é possível preservar e potencializar a ancestralidade da costura - como Lidi, dona Luiza e dona Geovania nos provam. Precisamos entender o potencial das nossas mãos. E aqui quero dizer entender a potência dos saberes ancestrais, do resgate que nos leva de volta à humanização dos corpos, da prática feita também com o coração, daquilo que dá sentido à vida e o sagrado que existe em cada conexão imaterial.


A moda que queremos ver, no hoje e no amanhã pós-pandemia, é a moda regida por esses passos. É moda que há 7 anos entoamos no Fashion Revolution: justa, transparente, empática, criativa, emancipatória, atenta às manualidades. Para seguirmos firmes nessa pavimentação, precisamos dar as mãos e segurar as pontes possíveis, firmes, caminháveis.


Como bem colocou Dona Geovania em uma de suas falas, “não deu certo aqui, vamos fazer de outro jeito". Ela falava sobre a costura, mas vale para a vida. Vale para esse sistema de moda falido, que já comprovou que não deu certo mediante os casos de desumanização que acontecem e se escancaram. Não deu certo. Vamos fazer de outro jeito. É possível desmanchar e começar de novo.



Reportagem original de Bárbara Poerner publicada no Fashion Revolution Brasil.


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Atualizado: 1 de mar. de 2021

Análise realizada pelo Fashion Revolution Brasil, o Índice mostra como 40 grandes marcas e varejistas de moda nacionais estão divulgando sobre suas práticas e processos sociais e ambientais





O Fashion Revolution Brasil acaba de lançar a terceira edição do Índice de Transparência da Moda Brasil (ITMB), durante o Rio Ethical Fashion, fórum internacional de moda e sustentabilidade. O ITMB 2020 revela em que nível 40 grandes marcas e varejistas do mercado brasileiro estão divulgando publicamente dados sobre suas políticas, práticas e impactos sociais e ambientais ao longo de toda a cadeia de valor. A análise abarca mais de 200 indicadores que cobrem tópicos relacionados a condições de trabalho, trabalho forçado, igualdade de gênero, igualdade racial, emissões de GEE (gases de efeito estufa), descarte de resíduos têxteis, reciclagem e circularidade, entre outros.


Dentre as empresas pesquisadas, a pontuação média foi de 21%. Nas faixas de pontuação acima de 50%, aparecem C&A (74%), Malwee (68%), Renner (59%), Youcom (59%), Hering (57%), Havaianas (55%) e Osklen (51%). Mas a metade das marcas está concentrada na faixa de 0-10% e, entre elas, 13 zeraram a pontuação: Brooksfield, Carmen Steffens, Cia. Marítima, Colcci, Colombo, Di Santinni, Fórum, Leader, Lojas Avenida, Lojas Pompéia, Moleca, Olympikus e TNG.


A pandemia prova porque transparência é tão vital


Com a crise sanitária e econômica desencadeada pelo coronavírus, a indústria têxtil e de confecção tem sido duramente afetada e seus trabalhadores são os mais vulneráveis. A forma como as empresas escolheram gerenciar essa crise mostra muito sobre as estruturas de poder e as verdadeiras intenções que conduzem seus negócios.


Das 40 marcas analisadas no ITMB 2020, apenas 5 marcas (13%) divulgam suas políticas sobre pagamento de fornecedores, e 3 marcas (8%) publicam o percentual de pagamento dos fornecedores realizados no prazo e de acordo com os termos acordados. Publicar informações sobre suas práticas de compra permite que grandes marcas e varejistas prestem contas pela segurança, saúde e bem-estar dos trabalhadores em suas cadeias. Em momentos como esse, as marcas não podem se esquivar de suas responsabilidades enquanto esperam que seus fornecedores garantam a seus trabalhadores todas as disposições legalmente exigidas, incluindo salários e benefícios integrais.


Como as marcas divulgam sobre seus fornecedores de matéria-prima?


A indústria da moda não existe sem a indústria têxtil. Com uma história tão antiga quanto a humanidade, o uso e manejo dos materiais têxteis tem muitos impactos negativos no meio ambiente e na manutenção dos direitos humanos. Dentre as marcas analisadas no Índice 2020, 20% publicam suas listas de fornecedores de matérias-primas, 18% atualizaram a lista nos últimos 12 meses e 33% publicam suas listas de fornecedores em instalações de beneficiamento e processamento.


Quanto ao uso de materiais com menos impacto, apenas 10% divulgam o percentual ou as toneladas de produtos resíduos têxteis gerados durante o período do relatório anual, 8% divulgam o que estão fazendo para minimizar o impacto das microfibras e 15% divulgam seu progresso anual no alcance de metas de materiais sustentáveis.




Em foco: clima, raça e gênero


Mesmo com a crise iminente, apenas 10 marcas (25%) publicam anualmente a pegada de carbono ou emissões de gases efeito estufa (GEE) de suas próprias instalações, 5 marcas (13%) publicam metas relacionadas à gestão do clima e/ou outros tópicos ambientais com base científica aprovadas pela Science Based Targets Initiative (SBTI) e somente 2 marcas (5%) publicam anualmente a pegada de carbono ou emissões de gases efeito estufa (GEE) de sua cadeia de fornecedores.


A indústria da moda é predominantemente de mulheres, onde elas ocupam 75% da rede produtiva no Brasil (ABIT) e 80% no mundo, mas são minoria em cargos de liderança. Elas recebem, em média, 20% a menos que os homens ocupando mesmos cargos (IBGE) e na indústria da moda são poucas marcas que divulgam suas políticas para equiparação salarial entre homens e mulheres em relação a seus funcionários diretos e aos trabalhadores de sua cadeia de fornecimento: apenas 30% das analisadas no ITMB, e o número cai drasticamente para 8% quando analisado como essas políticas serão colocadas em prática.


56% da população brasileira (IBGE) é preta ou parda, mas ainda enfrenta o racismo estrutural que gera uma diferença salarial de 31% entre brancos e negros. As marcas de moda analisadas no ITMB também carecem em reparar a história: 18% publicam ações com foco na promoção de igualdade racial entre seus funcionários, 10% publicam a distribuição por cor ou raça dentro da empresa considerando diferentes níveis hierárquicos e nenhuma (0%) publica as diferenças salariais sob a perspectiva racial dentro da empresa.


Transparência não é sustentabilidade


Para o Fashion Revolution, transparência é o início e não um fim, ou seja, é o primeiro passo de uma jornada que leva à responsabilização e prestação de contas que, por sua vez, levam a mudanças na prática.


Transparência não significa sustentabilidade, mas uma importante ferramenta que joga luz ao longo de todas as etapas da cadeia de valor da indústria da moda – desde a extração da matéria-prima até o descarte. Somente trazendo à tona os desafios e problemas sociais e ambientais presentes nos bastidores da indústria, será possível agir de forma eficaz em prol dos direitos humanos e da natureza. Não há como responsabilizar empresas e governos se não pudermos ver o que realmente está acontecendo. E por isso transparência é tão importante.



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