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O que pode o encontro da música com a linha?

Ô de Casas entre panos, fios e pontos foi inspirado em projeto musical da cantora Mônica Salmaso


Imagem: Instagram @monicasalmaso

Quando iniciou o projeto Ô de Casas, Mônica Salmaso não imaginava de que forma ele ressoaria, transpondo, inclusive, o campo musical. A cantora, diante do impulso de fazer música na pandemia – mas restrita ao distanciamento social – começou despretensiosamente a realizar um encontro entre amigos. O resultado foram lives semanais com grandes nomes da música, preenchendo um pouco do vazio causado pela pandemia na casa das pessoas.


“Foi muito importante pra mim, foi um remédio, uma forma de não adoecer”, conta a cantora. No início, o que era para ser apenas um encontro se transformou em uma série de encontros musicais. A experiência acabou inspirando outras pessoas a se reunirem em coletivo para trazer para o mundo – assim como ela – uma ação afetiva.


Motivados pelas músicas, surgiu o Ô de Casas entre panos, fios e pontos, um projeto que reuniu bordadeiras e bordadores de todo o Brasil com um objetivo em comum: transpor para o palpável o que música comunica por meio da melodia.



Imagem: Instagram @_o_de_casas

É algo que não dá pra fazer com pressa


Da mesma forma com que o Ô de Casas só se tornou real a partir do envolvimento de muitas mãos, o projeto de bordados contou com o comprometimento de pessoas diversas, homens e mulheres, experientes ou não nessa arte, mas que tinham em comum a paixão pela arte musical e têxtil. Somado a isso, eles enxergaram um paralelo entre música e bordado, atributo que muito interessa à Mônica.


“Muitas vezes falei de melodias como sendo bordados e rendas. Quando gravei uma música chamada ‘lábios que beijei’, composta por Orlando Silva, senti que a melodia dela parece um bordado. Acho que tem a ver com o nível de detalhe, tempo de feitura, paciência, é algo que não dá pra fazer com pressa”, conta a cantora.


Porém, mesmo com essa reflexão minuciosa investigando uma possível relação entre música e bordado, Mônica ainda não havia se deparado com um material como o que foi produzido pelo coletivo. “Foi um presentaço”, comemora. “Só de pensar em várias pessoas bordando, cada uma escolhendo uma música, fiquei muito emocionada com o convite”.


O processo de feitura dos bordados aconteceu paralelamente às lives que a cantora postava diariamente no seu Instagram. Quando completou 121 encontros, foi surpreendida em sua casa com uma caixa grande, que continha todos esses momentos registrados em fios, linhas e panos, além de outros presentes, como um bordado-retrato.


Antes de abrir a caixa, Mônica decidiu registrar o momento em vídeo, mesmo correndo o risco de “passar vexame, porque iria chorar com certeza”, lembra. O registro foi compartilhado em suas redes sociais, para que todos pudessem compartilhar do seu sentimento. “Não consigo imaginar um artista ter recebido um presente mais incrível do que esse na vida. Desde ouvir a música, pensar no desenho, como vai realizar e a própria realização. É muito tempo dedicado a uma ação de afeto, que vai muito além da arte. Não tenho palavras”, descreve.


Mônica tem uma conexão profunda com as atividades manuais. Sua casa no interior, onde está morando durante a pandemia, guarda muitas rendas de bilro, file e bordados. Ela mesma também gosta de experimentar o contato com os fios – fez um curso com a Matizes Dumond de bordado livre – e se aventura em algumas peças.



A iniciativa do Ô de Casas entre panos, fios e pontos, ressalta a cantora, é um retorno humano, artístico e, sobretudo, de amor e de afeto. Alguns participantes aprenderam a bordar para poder participar do projeto, porque queriam fazer um dos bordados. Por outro lado, há profissionais que já tem personalidade artística e domínio da técnica. “É como se fosse um mapa do bordado brasileiro atual, são diferentes técnicas, pontos, materiais, é muito lindo”, observa a cantora.


Para Mônica, tanto o Ô de Casas quanto o seu desdobramento nas artes manuais, trazem à tona a importância da consciência de que somos um coletivo. “Acho que existe um lado nessa experiência da pandemia que nós, por obrigação moral e em respeito às dores que o momento trouxe, não podemos nos dar o direito de não ganhar consciência. O quanto podemos nos ajudar, o quanto que a arte pode nos salvar e nos curar emocionalmente. Temos que tomar consciência de que podemos viver de outra maneira. O Ô de Casas entre panos, fios e pontos é mais um braço que fortalece todo esse movimento”.


A matéria completa estará disponível na Urdume #07

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