top of page

Abayomi - uma boneca brasileira


boneca Abayomi, importante símbolo de resistência negra na cultura brasileira, foi criada pela artesã maranhense Lena Martins no final da década de 80


Muito provavelmente você já viu de perto ou pelo menos ouviu falar das Abayomis, bonecas pretas, feitas de tecido, sem cola e sem costura. É provável também que você tenha tomado conhecimento sobre elas a partir de uma narrativa que credita a origem das bonecas a Diáspora Africana. Segundo circula por aí, as Abayomis teriam surgido quando mães escravizadas, sendo transportadas em navios negreiros, utilizariam retalhos das suas próprias roupas para criar os brinquedos para os filhos.


No entanto, a boneca tem origem muito mais recente, foi criada em 1987, no Brasil, pela artesã Lena Martins. Filósofa e ativista, nascida em São Luiz (MA), a educadora popular e militante do Movimento das Mulheres, criou a boneca no final dos anos de 1980, junto ao movimento negro, em paralelo aos atos de rememoração dos 100 anos da abolição.


A boneca fez tanto sucesso, se espalhando pelo Brasil e pelo mundo, que em 1988 foi criada no Rio de Janeiro a Cooperativa Abayomi, iniciativa que contribuiu fortemente para a autoestima e reconhecimento da identidade afro-brasileira.


Ainda assim, Lena conta que no final dos anos de 1990, começou a surgir uma lenda para o nascimento da boneca: “Não sei dizer porque surgiu a história dos navios negreiros, sou artesã e não historiadora. O que sei é da minha história e de como ela aconteceu. Hoje, dou muitas oficinas e pretendo fortalecer a autoestima da população afro-descendente”, diz Lena, reafirmando a importância do reconhecimento autoral de seu trabalho - mulher negra - desenvolvido justamente para e afirmação de seu povo.



Boneca brasileira


Na época da criação da boneca, Lena já confeccionava produtos e vendia em uma feira de artesanato no Rio de janeiro, mas com muita gente fazendo o mesmo, quis criar algo original, e que não exigisse máquina de costura. Como havia crescido em meio ao trabalho da mãe, costureira, cercada por retalhos e restos de tecidos, inspirou-se em suas brincadeiras de infância.


Profundamente envolvida com o Movimento de Mulheres Negras, Lena conta que foi nesse contexto que a boneca ganhou maior repercussão, e conforme o interesse pelas bonecas Abayomi foi ganhando mais espaço, foi criada a associação, reunindo um coletivo de mulheres que realizavam exposições e ações focadas na cultura popular. Neste período, Lena passou a dedicar seu tempo também a educação por meio de oficinas que, inicialmente, aconteciam em comunidades do Rio de Janeiro, especialmente nos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs).




Hoje, Lena já não produz uma quantidade muito grande de bonecas como fazia antigamente. Atualmente, está mais focada em confeccionar modelos em tamanho real ou cenas para serem fotografadas. A artesã também enveredou pelo campo literário, onde deixou fluir a sua vertente escritora. O livro infantil Vida que voa, lançado em 2011, conta sobre as sabedorias compartilhadas entre avó e neta e é ilustrado com as bonecas Abayomi.

1.334 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page