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Com benefícios similares aos de práticas integrativas, o tricô pode ser usado como uma ferramenta de relaxamento, diminuição de ansiedade e foco mental



Foi-se o tempo em que o tricô era coisa da vovó. Segundo o Craft Yarn Council [conselho representante da indústria nos EUA], um terço das mulheres norte-americanas de 25 a 35 anos tricotam ou fazem crochê rotineiramente. No Brasil a adesão parece ser a mesma: mulheres (e cada vez mais homens) de todas as idades têm aderido às agulhas, dando ares mais modernos à técnica e usando o tricô como uma prática de descanso do universo digital.


Comprovadamente benéfico à saúde, o tricô tem se juntado a atividades como meditação e jardinagem, somando-se ao rol de práticas integrativas. Tricô is the new yoga.


A saúde pelas mãos

Um pesquisa da Universidade de Otago (Nova Zelândia), com 658 estudantes universitários, revelou que os jovens se sentiam mais felizes nos dias seguintes a práticas de atividades criativas como o tricô.


“Há um crescente reconhecimento na psicologia de que a criatividade está associada ao funcionamento emocional. No entanto, a maior parte deste trabalho se concentra em como as emoções beneficiam ou dificultam a criatividade, e não se a criatividade beneficia ou prejudica o bem-estar emocional”, disse Tamlin Conner, líder da pesquisa, ao jornal The Telegraph.


No mesmo caminho, uma pesquisa realizada no Canadá sobre os benefícios do tricô na recuperação de pessoas com transtornos alimentares (Managing anxiety in eating disorders with knitting) demonstrou que o tricô colaborou para a diminuição da ansiedade de 74% das 38 mulheres pesquisadas. Segundo os autores do estudo, isso acontece porque evidências teóricas e empíricas sugerem que a realização de uma tarefa visual e espacial ao mesmo tempo reduz a intensidade emocional de imagens angustiantes. Algo que a fisioterapeuta Betsan Corkhill percebeu na prática, ao receber relatos de centenas de mulheres que diziam ter mudado suas vidas a partir do tricô, quando trabalhava em uma revista feminina. A partir dessa experiência, fundou o Stitchlinks, negócio social voltado para a promoção do tricô terapêutico, e realizou, em

2010, juntamente com a Universidade de Cardiff, do Reino Unido, uma pesquisa online sobre os efeitos percebidos na relação entre o tricô e o humor, sentimentos, pensamento, atividade social e habilidades.


O estudo recebeu 3.545 respostas e foi publicado na edição de fevereiro de 2013 do British Journal of Occupational Therapy, revelando uma relação significativa entre o ato de tricotar e a sensação de felicidade. Alguns dos entrevistados chegaram a relatar os efeitos positivos do tricô no funcionamento cognitivo, como maior facilidade na resolução de problemas ou encadeamento lógico mais aprimorado.


“Através da linha, eu podia sentir os músculos do meu pescoço se soltarem e meu corpo começar a relaxar pela primeira vez em meses. Eu quase podia sentir meu cérebro se desatando, percebendo que não era tão ruim assim ser eu mesma, fui me acalmando" é um dos depoimentos do livro "Knit for Health and Wellness", de Betsan Corkhill.



No livro Knit, lançado em 2018, ela afirma que o corpo humano não foi capaz de se adaptar às transformações da vida moderna, e, por isso, nossos níveis de hormônios do estresse estão constantemente elevados, dando respostas exageradas a questões desagradáveis, mas não necessariamente de ameaça à vida, como barulho, trânsito e excesso de trabalho. Para a autora, ter o hábito de realizar atividades de relaxamento, como tricotar, é questão de sobrevivência. Os movimentos rítmicos do tricô induzem a uma sensação calmante e meditativa necessária ao nosso dia a dia.


“Reservar 20 minutos por dia para se envolver no processo rítmico de tricotar pode ajudar a administrar a dose diária de estresse a que todos estamos sujeitos. Ser capaz de 'desligar' por um período de tempo é fundamental para a saúde e o bem-estar, especialmente para nós, que vivemos 24h por dia conectados à Internet. Nosso corpo precisa de tempo para se curar, crescer e se regenerar”, afirma Betson.


Segundo ela, seu corpo não pode ficar alerta o tempo todo sem sofrer consequências. Tricotar pode ser um caminho de autocura.

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Foto: Felipe Borges


Recordo-me com deleite das trilhas que fiz, observando os verdes das árvores e dos arbustos, os coloridos das flores e dos inusitados frutos que encontrei. Encanta-me, também, observar, quando vou à feira de domingo, a multiplicidade de alimentos e a exuberante paleta de cores formada. Sinto, igualmente, o coração se encher de graça ao caminhar pela zona cerealista de São Paulo e contemplar a infinidade de temperos, ervas, cascas de árvores, grãos e sementes, cujas cores saltam aos olhos.


A natureza, fantasticamente, criou as mais variadas e encantadoras cores e há milhares de anos o homem utiliza-se de diferentes matérias-primas naturais para dar cor às suas próprias criações. Nesse contexto, o tingimento natural, aquela técnica milenar de usar pigmentos naturais para dar cor a substratos têxteis, encanta pelos resultados obtidos.


As fontes de onde é possível extrair esses corantes são diversas, afinal, a natureza nos rodeia com suas cores belíssimas. Temperar um alimento com açafrão-da-terra é brincar de amarelar a comida. Experimente cozinhar um tecido com esse tempero, a cor obtida é um amarelo que resplandece aos olhos. Na cozinha, ainda podemos encontrar aquelas sementes belas e cheirosas do urucum. Elas deixam os tecidos com diferentes intensidades de laranja, dependendo da fibra têxtil e do processo de tingimento.


E aquelas plantas verdes de onde se extraem os azuis fortes e imponentes? Esse corante, conhecido como índigo, já era usado há 6.000 anos no Peru e é extraído pelo processo de fermentação das folhas de diversas plantas, como as dos gêneros Isatis e Indigofera.

Rosas e roxos podem ser extraídos das flores de hibisco, das cascas de uva e jabuticaba. Contudo, as cores dessas plantas são instáveis e variam muito com o pH devido às características desses pigmentos, o que pode fazer com que o tecido apresente manchas verde acinzentadas. Nesse caso, é preciso antever a aplicação do tecido que será tingido com elas.



Foto: Felipe Borges


Para quem gosta dos tons beges e marrons, as cascas de árvore são as aliadas, além de possibilitarem cores muito resistentes. É possível se obter diferentes matizes. Por exemplo, a casca da catuaba cria tons de marrom mais avermelhados, enquanto a casca de copaíba, tons de marrom mais amarelados. Mas cuidado! Há o jeito certo de retirar a casca de uma árvore para não causar danos a ela. Para evitar erros, prefira sempre usar a casca externa da árvore. Além disso, uma lida no manual “Boas práticas de manejo para o extrativismo sustentável de cascas”, de Filizola e Sampaio, pode trazer um bom esclarecimento sobre isso.


Falar sobre as cores naturais é sempre encantador, mas precisamos ter consciência de que o tingimento natural também deve se basear na preservação. Uma produção industrial, ao modelo fast fashion, com o uso de plantas corantes pode gerar um grande impacto no meio ambiente. À vista disso, evoco as palavras de Fletcher e Grose, em “Moda e sustentabilidade: design para mudança”, de que o propósito do uso dos corantes na-turais “não é atender aos padrões que a indústria impõe a si mesma, mas, acima de tudo, trabalhar dentro dos limites da natureza”. Dessa forma, conectarmo-nos com a terra, compreender seu tempo e sua lógica é de extrema importância para utilizarmos esses corantes.


Há um universo milenar sobre o tingimento natural. Se lançar nele é ver a beleza da natureza, é se encantar com a mais sutil nuance das plantas, é se sentir feliz em ver um tecido sair da panela com uma nova cor, é testar diferentes processos e perceber que uma única planta pode criar uma cartela de cores maravilhosa. Enfim, é ir em frente, desvendando, descobrindo, e não querer voltar atrás!

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Atualizado: 8 de mar. de 2021

A artista Joana de Lima une as duas técnicas utilizando costura artesanal e tingimento natural


Tons naturais, tecidos orgânicos e formas geométricas se misturam no trabalho da artista Joana de Lima. Sua produção, como ela mesma diz, tem como ideal unir as técnicas tradicionais do patchwork e do quilting em uma interpretação mais contemporânea. Basta uma visita ao seu Instagram, onde ela divulga as suas produções, para perceber como a costura artesanal une texturas e cores que dão forma ao seu fazer manual.

No seu trabalho, utiliza basicamente duas técnicas: o patchwork, que consiste na união de pequenos retalhos de tecido costurados entre si, formando diferentes desenhos e composições; e o quilting, uma técnica de costura que passa pelas três camadas de um quilt (colcha), unindo a frente, o recheio e o verso, dando um aspecto acolchoado ao trabalho.

“O patchwork eu costumo costurar à máquina, porque é algo mais preciso e exato, mas o processo de quiltar eu sempre faço à mão. Existem máquinas de costura super tecnológicas e específicas para isso, mas o resultado de se fazer à mão não se compara. É de uma beleza única e eu acho que adiciona mais personalidade ao trabalho, além de me proporcionar momentos de costura quase que meditativos”, reflete Joana.


Percurso

Os trabalhos manuais estiveram presentes na vida da artista desde muito cedo. Sua avó a ensinou a tricotar quando era muito nova e a mãe sempre a incentivou a desenvolver essas habilidades. Mas foi quando eu tinha uns 20 anos que decidiu se dedicar mais à costura, num momento da vida em que o trabalho manual foi como uma terapia. “Trabalhar com as mãos para arejar a cabeça”, completa.

Então, decidiu fazer um curso básico de patchwork e foi praticando em casa, seguindo uma perspectiva bem matemática e perfeccionista, conforme haviam ensinado nas aulas. Com o tempo, foi experimentando outras maneiras de executar - com o patchwork e o bordado japoneses (boro e sashiko), com o patchwork coreano (bojagi/pojagi), com diferentes técnicas de appliqué e os muitos estilos de patchwork norte americano.

Descobri, assim, que o ato de costurar poderia ser algo bem mais orgânico, livre e divertido. Percebeu que a produção que antes utilizava todo e qualquer retalho em suas composições, dos mais variados tipos de tecido porque havia a escassez dos mesmos, hoje poderia seguir a mesma ideia, mas porque os temos em excesso.

“Reaproveitar e ressignificar algo que já existe no mundo está diretamente ligado a um modo de vida mais sustentável que tento adotar. Então além dos tecidos que compro para tingir, também garimpo muita coisa antiga em lojas, brechós e bazares”, conta.


Materiais

A matéria prima natural - algodão, linho, seda – quando possível orgânica, é priorizada no trabalho de Joana. Com a intenção de minimizar o impacto e os resíduos que produz, prefere colorir os tecidos com pigmentos naturais. Essas escolhas, ressalta, partem de um princípio sustentável, mas também conversam com uma questão estética. Fibras naturais, observa a artista, são infinitamente mais bonitas e agradáveis ao toque, além de durarem muito mais. “E as cores que se pode atingir através da tinturaria natural são incríveis e complementam-se de uma forma que só a natureza sabe fazer”.

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