Iniciativa de Curitiba reúne rede local de moda autoral, brechós, e projetos socioculturais
Falar que a moda está entre as indústrias que mais poluem no mundo já virou até clichê. O setor é responsável por 92 milhões de toneladas de resíduos sólidos gerados globalmente a cada ano, de acordo com relatório divulgado em 2021 pelo Fórum Econômico Mundial. O setor também é o segundo que mais polui os oceanos, liberando cerca de 500 mil toneladas de microfibras sintéticas nos mares todos os anos.
Diante de dados como esses, fica difícil não se sensibilizar. Mesmo que, nos últimos anos, tenham se amplificado iniciativas que priorizam atitudes mais responsáveis na produção e comercialização, buscando reduzir os impactos no meio ambiente, cabe a todos ter mais consciência do papel de cada um dentro desse sistema.
Ainda que informações sobre o consumo consciente estejam cada vez mais disseminadas, muitas pessoas podem não conhecer marcas que tenham princípios sustentáveis e que atuem localmente. Pensando em ser um ponto de apoio para quem procura consumir de forma mais consciente, surgiu o Clube Lupa, um clube de experiências focado para moda autoral, brechós, bares, restaurantes, iniciativas locais e projetos sociais.
Sediado em Curitiba (PR), o Lupa foi criado por Fernanda Paludo com a intenção de reunir marcas locais engajadas com práticas e formas de produzir mais responsáveis. Antes mesmo de ser lançado, em maio deste ano, o conceito já fazia parte do imaginário e das práticas de Fernanda, que era frequentemente procurada por amigos para indicar marcas, restaurantes e outras iniciativas com atuação consciente.“Ou seja, é uma extensão do trabalho que eu já vinha fazendo nas redes sociais com curadoria de marcas”, conta.
O que é o Clube Lupa?
Definido como um clube de experiências focado em moda, arte e cultura, o empreendimento reúne 110 parceiros de moda autoral, brechós, galerias, museus e serviços em geral. Cada um fornece benefícios - como descontos, mimos e sorteios - para os assinantes, que podem optar por dois planos de assinaturas: o anual (R$19,90 por mês) ou o semestral (21,90 por mês), valores que são revertidos para projetos sociais.
Com o Lupa, é possível ter acesso à curadoria e ao catálogo de marcas de Curitiba - a ideia, futuramente, é expandir para outras regiões do país. Fernanda vislumbra a iniciativa como uma forma de incentivar e indicar marcas que, além da qualidade, tenham consciência e responsabilidade ética também nos bastidores. “Tenho um critério de seleção bem cuidadoso. O intuito é proporcionar experiências diferentes para as pessoas e colaborar para a economia local”, completa.
Alguns projetos sociais contemplados são o Banco de Roupas, que tem como objetivo ajudar mulheres em situação de vulnerabilidade ou vítimas de violência doméstica a se reinserir no mercado de trabalho e ter sua independência através de uma consultoria de imagem e doação de roupas. Outros são o Toda Ajuda Importa, que realiza ações de entrega de marmitas, cobertores e roupas para moradores de rua; e o Coletivo Igualdade Menstrual, que promove educação e acesso a produtos de higiene menstrual a pessoas em situação vulnerável.
Como tudo começou?
Não é à toa que Fernanda enveredou pelo rumo da moda sustentável e eticamente responsável.
Morando nos Estados Unidos, em 2017, trabalhou em grandes redes de fast fashion, como a Forever 21, em San Diego, Califórnia, e passou a entender sobre a parte administrativa e logística.“Descobri que o buraco era muito mais embaixo. Comecei a pesquisar e estudar sobre como são feitas e de onde vêm as peças, li sobre Bangladesh e Camboja. Foi o início dos meus estudos nessa área”, conta.
Depois da Forever 21, ela passou em um processo seletivo para integrar a equipe da Nordstrom, uma loja de departamentos de luxo. Trabalhando no estoque, percebeu qualidade versus quantidade e se aprofundou nos estudos e leituras. Neste momento, foi criado o perfil de Instagram, para dar vazão aos conhecimentos sobre consumo e moda responsável. “Faço um trabalho de conscientização de uma forma leve e descontraída para que as pessoas aceitem e compreendam com mais facilidade”.
Formada em Direito, Fernanda sempre foi uma empreendedora. Logo depois de se formar, criou a “Bom Estágio”, uma empresa que fazia treinamento para estagiários iniciantes entrarem no mercado de trabalho mais preparados. Inspirada por um curso realizado no Sebrae, criou o Friends Bazar, em 2016. “Na época, bazar era algo novo e fez muito sucesso”. Foram, ao todo, 4 edições com 188 expositores e mais de 10 mil visitantes. Depois, em 2018, veio o Frugally Fair, reunindo 35 expositores entre brechós, marcas com viés social e sustentável.
O Clube Lupa, o sexto empreendimento, enfrenta o desafio de ter surgido em meio à pandemia. “Era pra ter sido lançado em fevereiro, estava tudo pronto e um dia antes entrou a bandeira vermelha. Tive que readaptar e criar todo um novo material para focar em delivery e take away e acabou iniciando em maio, lembra Fernanda, que, sozinha, é a responsável por todas as atividades. Recentemente, recebeu o reconhecimento da Câmara de Vereadores pelo seu trabalho, o que a emocionou muito. “É muito significativo perceber como esse caminho está sendo gratificante. Posso dizer que a vida me levou para a minha essência, essa é a minha maior conquista”.
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