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Craftivismo: A forma do ativismo silencioso - [URDUME número 0]


Como o trabalho com as mãos conta histórias e transforma o mundo

Craftivismo: "uma maneira de olhar a vida, a expressão de opiniões através da criatividade para tornar a sua voz mais forte, uma compaixão profunda na busca pela justiça."

A definição do termo está no site de Betsy Greer, escritora e consultora, responsável por criar e disseminar o conceito pelo mundo. Um nome criado para dar conta de um movimento que, segundo ela, é mundial e atua na intersecção entre artesanato e ativismo. Algo que ela demonstrou em seu livro Craftivism: The Art of Craft and Activism, no qual conta a história de artesãos ao redor do mundo que contribuíram ou contribuem para causas sociais, transformando o mundo com sua arte. Projetos de bordado comunitários, de costura em prisões, o uso dos fios para crescimento pessoal, etc.


Além de Betsy, outra militante do Craftivismo é Sarah Corbett, autora do livro How to Be a Craftivist - The Art of the Gentle Protest, que apresenta o Craftivismo como uma forma silenciosa de ativismo através do artesanato, a forma de ativismo que ela acreditar se menos desgastante e recompensadora para os introvertidos. No livro, Sarah conta sua própria experiência em causas sociais e como transformou sua atuação ativista pelo trabalho com as mãos.


Craftivismo, uma novidade?

Mas será que o casamento do artesanato com o ativismo é algo novo? A história afirma que não. Já nos séculos XIX e XX, feministas utilizavam técnicas de tricô, bordado e outras artes manuais têxteis para promover valores sociais e a autonomia das mulheres da cidade e do campo.

No século XIX, Elizabeth Parker, de 17 anos, produziu um bordado em ponto cruz, autobiográfico, de 1.643 palavras, em que narra sua infância, abuso no local de trabalho, tentações suicidas e lutas mentais de uma maneira confessional e desprovida de qualquer bordado ornamental ou costura decorativa. Bordou para denunciar, bordou para sobreviver.

Arpilleras Chilenas

Peças-chave na resistência política contra o governo ditatorial de Pinochet no Chile, as Arpilleras Chilenas, bordadeiras de Isla Negra, usaram também a técnica em sua função política e contribuíram para o retorno à democracia no país.

Durante as décadas de 1970 e 1980, mulheres chilenas, mães, esposas, filhas de perseguidos políticos, e elas próprias colocadas nessa condição por um regime repressivo, expressavam, por meio de suas peças artesanais, suas vidas, lutas, tristezas e pequenas alegrias.

Uma forma de comunicação com o mundo, ao mesmo tempo que uma fonte de renda, a técnica têxtil da Arpillaria foi para essas mulheres atividade de cooperação e enfrentamento, quebrando de forma simbólica o código de silêncio imposto pela situação então vivida no país.



Até hoje muitas arpilleras são feitas com um bolso que carrega a história pessoal da autora. As mensagens contam circunstâncias da artesã em seu contexto social e comunitário.

Na edição de julho de 1978 revista espanhola Vida Nueva, publicada em Madri, cujo tema central foi “Chile: os desaparecidos”, lemos: “Chile 1978. Depois de cinco anos de governo militar, o Chile não consegue se reerguer. O ‘avanço econômico’ anunciado por alguns ministros só beneficia a uma pequena minoria pertencente aos setores ricos. A grande massa da população sofre as consequências de uma situação econômica insustentável: greves, demissões, falta de proteção aos direitos do trabalhador, escolaridade deficiente, falta de moradia, imoralidade, fome. O governo mantém uma atitude dura e inflexível (...) Admite este ‘custo social’ para ‘salvar a pátria’ (...) As ‘tapeçarias da difamação’, conhecidas internacionalmente – pois é certo que estão em numerosos países da Europa e da América – sob o nome de arpilleras chilenas, nos fornecem uma excelente oportunidade para discutir a fundo um tema atual. De atualidade também internacional: o papel da Igreja na temporalidade da sociedade. Problema complexo e polêmico, que compreende inúmeras reflexões teológicas, políticas e sociológicas”.

Uma das maiores porta-vozes das Arpilleras foi Violeta Parra. A cantora contribuiu para a exposição de uma série de arpilleras no Pavilhão Marsan do Museu de Artes Decorativas do Louvre, em 1964.


Craftivismo no Brasil de hoje

Atualmente, iniciativas de craftivismo não param de se multiplicar. Temos as Arpilleras brasileiras, que podem ser conhecidas no filme Arpilleras: Bordando a Resistência, ações sociais em escolas, prisões e asilos, e centenas de mulheres bordando sobre o feminismo pelo país.

Nota editorial:

O projeto Fios e Ritos acredita que, diante do momento atual brasileiro, ações de craftivismo se fazem mais que urgentes. A partir de novembro serão realizados encontros para conhecimento do tema e produção de peças artesanais para intervenções poéticas na cidade de Curitiba. Interessados podem escrever para fioseritos@gmail.com

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