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Confira a terceira edição do Índice de Transparência da Moda Brasil

Atualizado: 1 de mar. de 2021

Análise realizada pelo Fashion Revolution Brasil, o Índice mostra como 40 grandes marcas e varejistas de moda nacionais estão divulgando sobre suas práticas e processos sociais e ambientais





O Fashion Revolution Brasil acaba de lançar a terceira edição do Índice de Transparência da Moda Brasil (ITMB), durante o Rio Ethical Fashion, fórum internacional de moda e sustentabilidade. O ITMB 2020 revela em que nível 40 grandes marcas e varejistas do mercado brasileiro estão divulgando publicamente dados sobre suas políticas, práticas e impactos sociais e ambientais ao longo de toda a cadeia de valor. A análise abarca mais de 200 indicadores que cobrem tópicos relacionados a condições de trabalho, trabalho forçado, igualdade de gênero, igualdade racial, emissões de GEE (gases de efeito estufa), descarte de resíduos têxteis, reciclagem e circularidade, entre outros.


Dentre as empresas pesquisadas, a pontuação média foi de 21%. Nas faixas de pontuação acima de 50%, aparecem C&A (74%), Malwee (68%), Renner (59%), Youcom (59%), Hering (57%), Havaianas (55%) e Osklen (51%). Mas a metade das marcas está concentrada na faixa de 0-10% e, entre elas, 13 zeraram a pontuação: Brooksfield, Carmen Steffens, Cia. Marítima, Colcci, Colombo, Di Santinni, Fórum, Leader, Lojas Avenida, Lojas Pompéia, Moleca, Olympikus e TNG.


A pandemia prova porque transparência é tão vital


Com a crise sanitária e econômica desencadeada pelo coronavírus, a indústria têxtil e de confecção tem sido duramente afetada e seus trabalhadores são os mais vulneráveis. A forma como as empresas escolheram gerenciar essa crise mostra muito sobre as estruturas de poder e as verdadeiras intenções que conduzem seus negócios.


Das 40 marcas analisadas no ITMB 2020, apenas 5 marcas (13%) divulgam suas políticas sobre pagamento de fornecedores, e 3 marcas (8%) publicam o percentual de pagamento dos fornecedores realizados no prazo e de acordo com os termos acordados. Publicar informações sobre suas práticas de compra permite que grandes marcas e varejistas prestem contas pela segurança, saúde e bem-estar dos trabalhadores em suas cadeias. Em momentos como esse, as marcas não podem se esquivar de suas responsabilidades enquanto esperam que seus fornecedores garantam a seus trabalhadores todas as disposições legalmente exigidas, incluindo salários e benefícios integrais.


Como as marcas divulgam sobre seus fornecedores de matéria-prima?


A indústria da moda não existe sem a indústria têxtil. Com uma história tão antiga quanto a humanidade, o uso e manejo dos materiais têxteis tem muitos impactos negativos no meio ambiente e na manutenção dos direitos humanos. Dentre as marcas analisadas no Índice 2020, 20% publicam suas listas de fornecedores de matérias-primas, 18% atualizaram a lista nos últimos 12 meses e 33% publicam suas listas de fornecedores em instalações de beneficiamento e processamento.


Quanto ao uso de materiais com menos impacto, apenas 10% divulgam o percentual ou as toneladas de produtos resíduos têxteis gerados durante o período do relatório anual, 8% divulgam o que estão fazendo para minimizar o impacto das microfibras e 15% divulgam seu progresso anual no alcance de metas de materiais sustentáveis.




Em foco: clima, raça e gênero


Mesmo com a crise iminente, apenas 10 marcas (25%) publicam anualmente a pegada de carbono ou emissões de gases efeito estufa (GEE) de suas próprias instalações, 5 marcas (13%) publicam metas relacionadas à gestão do clima e/ou outros tópicos ambientais com base científica aprovadas pela Science Based Targets Initiative (SBTI) e somente 2 marcas (5%) publicam anualmente a pegada de carbono ou emissões de gases efeito estufa (GEE) de sua cadeia de fornecedores.


A indústria da moda é predominantemente de mulheres, onde elas ocupam 75% da rede produtiva no Brasil (ABIT) e 80% no mundo, mas são minoria em cargos de liderança. Elas recebem, em média, 20% a menos que os homens ocupando mesmos cargos (IBGE) e na indústria da moda são poucas marcas que divulgam suas políticas para equiparação salarial entre homens e mulheres em relação a seus funcionários diretos e aos trabalhadores de sua cadeia de fornecimento: apenas 30% das analisadas no ITMB, e o número cai drasticamente para 8% quando analisado como essas políticas serão colocadas em prática.


56% da população brasileira (IBGE) é preta ou parda, mas ainda enfrenta o racismo estrutural que gera uma diferença salarial de 31% entre brancos e negros. As marcas de moda analisadas no ITMB também carecem em reparar a história: 18% publicam ações com foco na promoção de igualdade racial entre seus funcionários, 10% publicam a distribuição por cor ou raça dentro da empresa considerando diferentes níveis hierárquicos e nenhuma (0%) publica as diferenças salariais sob a perspectiva racial dentro da empresa.


Transparência não é sustentabilidade


Para o Fashion Revolution, transparência é o início e não um fim, ou seja, é o primeiro passo de uma jornada que leva à responsabilização e prestação de contas que, por sua vez, levam a mudanças na prática.


Transparência não significa sustentabilidade, mas uma importante ferramenta que joga luz ao longo de todas as etapas da cadeia de valor da indústria da moda – desde a extração da matéria-prima até o descarte. Somente trazendo à tona os desafios e problemas sociais e ambientais presentes nos bastidores da indústria, será possível agir de forma eficaz em prol dos direitos humanos e da natureza. Não há como responsabilizar empresas e governos se não pudermos ver o que realmente está acontecendo. E por isso transparência é tão importante.



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